Um tanto teatral, um tanto muito crítica. Acho que é assim que posso descrevê-la, vê muito além em todos, nos maus e nos bons, não sei como ela consegue ser assim, é meio inexplicável, mas ela é, mas ao mesmo tempo é tão tímida e delicada, como se fosse viver para sempre, será que ela vai?
Tem um pouco de loucura, de magia, fantasia e essas coisas que não existem - ou dizem não existir - tudo nela é improvável, meio impossível, e ela não é nem um pouco passional, detesta ou ama, extrema. Tem uns sentimentos e umas ideias que são como vírus, contagiosas. Acho que quero ela pra mim, de um jeito estranho, como se pudesse caça-lá, talvez pelo cheiro, com alguma armadilha, qualquer coisa, depois dou algum jeito de enfia-lá num quadro bem grande ou dentro do meu espelho, para que dessa forma possa vê-la todos os dias pela manhã, mas não sei se daria certo, ela deve ser difícil de fisgar, precisaria de paixão, daquelas que causam frio e calor ao mesmo tempo, não sei se ela sente isso por mim, e sentirá? Ela sempre repeti umas coisas meio loucas, meio bobas e indecifravéis como se estivesse conversando consigo mesma, umas frases, umas palavras sem sentido, meio vagas - ou totalmente, mas que mexem comigo, todo mundo se apaixona por ela e eu não sei se isso é amor, é meio indefinível como ela e mesmo assim quero-a prisioneira. Ela tem uma mente incrível e azul, mas tem tantos outros tons, é isso, ela tem uma mente arco-íris, e deixa todo mundo entrar não importa a raça, não importa a cor, nem a índole ou o caráter acho que ela tem alguma parte que falta, alguma parte meio incompleta, meio em frangalhos, e enfia essa gente toda dentro da cabeça pra ter o que pensar, o que achar, o que opinar, acho que é uma espécie de tentativa de preencher a mente e a cabeça, talvez até o coração. Um lampejo, um lampejo é o que ela sempre repeti e gosta tanto da chuva, do frio, do inverno, tem umas histórias meio de cabeça, meio sonhadora, um lado meio inventado, uma personagem que ela mesmo descreveu e assumiu o papel, lampejo, sempre me pergunto o que ela quer dizer com isso, às vezes, pego ela com lágrimas nos olhos, mas vejo em seus olhos que não está ali que está em outro lugar e sofrendo, e a palavra fica ali sendo vomitada por ela, posta pra fora: lampejo lampejo lampejo, ela fala assim sem respirar, e depois de um longo silêncio, vem a palavra preciso bem breve, e depois voltam consecutivos lampejo lampejo lampejo. Sei, ela precisa de um lampejo, mas para que? Por quê?
Ontem recebi a notícia, nem consigo acreditar, ela sumiu, desapareceu, como por mágica, ela tinha isso nos olhos, magia e acreditava sempre em tudo, um lado meio infantil, meio besta, chorei muito depois que me disseram isso, mas depois me veio uma felicidade doida, uma que nunca senti e uma promessa de que tudo ficaria bem, tão estranho e ao mesmo tempo reconfortante. Nunca mais vi ninguém parecido, nem de longe com ela, ninguém nunca mais a viu, nem se lembra dela e de seus lampejos, será que foi isso que aconteceu? Um lampejo, talvez ela tenha tido uma trovoada na cabeça e seguiu seu caminho, acho que a felicidade que eu senti aquele dia foi uma forma mágica que ela me transmitiu para que eu me sentisse como ela se sentiu quando finalmente recebeu o lampejo. Uma fé e uma felicidade absurda, que não cessa nem apanhando, nem com droga e nem com rémedio pra dormir. Onde quer que ela esteja, acho que está muito feliz e agora acho que tenho certeza de alguma forma ela viverá para sempre.